quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Homem caiu do 47° andar e está vivo.



Ele recebeu um total de 11 l de sangue e 9 l de plasma em transfusões, e passou por uma cirurgia abdominal no pronto-socorro, porque, como diz seu médico, ninguém queria enfrentar o risco de transferi-lo a uma sala de operações. Ao longo do mês de dezembro, ele passou por outras nove cirurgias ortopédicas. E Alcides Moreno, o homem que caiu do céu, de alguma maneira sobreviveu a tudo isso.

Em seu quarto de hospital, em meio às máquinas que ajudaram a mantê-lo vivo, sua mulher, Rosário Moreno, não parava de acariciar seu rosto e cabelos, na esperança de que um contato simples, terno, o ajudasse a recordar, o ajudasse a retornar. Então, no dia de Natal, Alcides Moreno estendeu a mão - e acariciou o rosto errado.

"Aparentemente ele tentou acariciar o rosto de uma enfermeira", disse Rosário Moreno na quinta-feira, descrevendo a bronca gentil que havia dado no marido quando foi informada do ocorrido. "Eu disse que ele não devia ter feito aquilo. A mulher dele sou eu. Sou eu que ele deveria ter acariciado".

E Moreno falou pela primeira vez desde o acidente de 7 de dezembro. "O que foi que eu fiz?", ele perguntou, em inglês, se voltando para ela. "Fiquei espantada", diz Rosário, "porque não sabia que ele já podia falar".

Cercada pelos médicos que ajudaram a salvar seu marido, Rosário contou sua história em uma entrevista coletiva na qual profissionais de medicina com anos de experiência no tratamento de ferimentos traumáticos empregaram palavras como "milagre" e "inédito" para descrever algo que parece notável: um homem que despencou por 150 m e se espatifou em um beco de Manhattan está falando e, com alguma sorte, algumas cirurgias a mais e um bom trabalho de reabilitação física, talvez em breve volte a caminhar.

"Se você acredita em milagres, esse caso pode servir de prova", disse o Dr. Philip Barie, diretor da divisão de cuidados médicos críticos no Centro Médico Weill Cornell, parte do Hospital Presbiteriano de Nova York, que está cuidando de Alcides Moreno, 37 anos.

"Ficamos muito satisfeitos - talvez eu pudesse dizer 'atônitos' - com o nível de recuperação de que o paciente vem desfrutando até agora", ele acrescentou. "E embora ainda reste trabalho a fazer, estamos muito otimistas quanto a suas perspectivas de sobrevivência".

Por mais otimistas que parecessem, os médicos moderaram pragmaticamente sua discussão quanto às perspectivas de recuperação de Moreno. Ele passará por cirurgia de estabilização da espinha na sexta-feira. Depois disso, ele terá de enfrentar nova cirurgia ortopédica, e só mais tarde poderá iniciar longos meses de reabilitação. Mas os médicos mesmo assim previram que ele poderia obter recuperação completa em cerca de um ano.

Na coletiva, respondendo a uma pergunta sobre a possibilidade de que Moreno voltasse a andar, Barie disse que "acreditamos que sim, isso será possível". Ele apontou para o fato de que a pélvis de Moreno não havia sofrido lesões na queda, e acrescentou que todos os ferimentos sofridos pelas pernas de Moreno - cerca de dez fraturas - já foram reparados, com exceção de uma fratura. "Nosso objetivo não é só sobrevivência, mas que ele sobreviva de maneira funcional", acrescentou Barie.

Ainda assim, o médico deu a entender que Moreno havia conduzido a equipe que o atendeu em uma viagem por águas médicas inexploradas. Barie disse que os médicos envolvidos não tinham experiência com uma pessoa que tivesse caído de tamanha altura. Segundo o médico, quedas de uma altura de três andares podem ser fatais, se a pessoa bater a cabeça ao atingir o solo.

"Em quedas de altura superior a dez andares, os pacientes raramente chegam até nós, porque costumam ir direto para o necrotério", disse Barie, ainda que acrescentasse que a equipe do centro Weill Cornell e do hospital Presbiteriano tivesse tratado um paciente que sobreviveu a uma queda de 19 andares - menos da metade da distância percorrida por Moreno -, e que o caso tivesse resultado em artigo publicado por um jornal de medicina.

No entanto, Moreno, que vive em Linden, Nova Jersey, vem contrariando as probabilidades desde o começo do caso. Ele estava sentado quando os bombeiros chegaram ao edifício, o Solow Tower, que fica na rua 66, 265 East. Ao ser transportado para o pronto socorro, ele estava "no limite da consciência", disse Barie, a despeito de sérias lesões no cérebro, espinha, peito e abdômen, acompanhadas por diversas costelas fraturadas, e fraturas no braço direito e nas duas pernas.

Tradução: Paulo Eduardo Migliacci ME

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